O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) avisa a quem interessar: passadas as eleições municipais, vai rodar o Estado do Rio num movimento
nos moldes das Caravanas da Cidadania que Luiz Inácio Lula da Silva fez pelo
Brasil antes de ser eleito presidente. Lindbergh, agora, diz que não gostaria
de ter que fazer oposição ao governador Sérgio Cabral (PMDB), que pretende
fazer o sucessor. Mas não nega fogo ao falar da disposição para a briga em
2014.
Não é segredo que há uma
tensão em torno da sua candidatura ao governo em 2014 e da possibilidade de a
direção do PT interferir para garantir o apoio ao candidato do governador
Sérgio Cabral, o vice-governador Luiz Fernando Pezão...
Não tem tensão. Sou pré-candidato ao governo. Agora, estamos nesta campanha
(municipal). Mas, depois, vamos começar a rodar o estado. Sou candidato ao
governo, e não tem nenhuma pessoa da direção nacional do PT que fala em outro
sentido.
Nem o Lula ?
Nem o Lula. Falo com o Lula direto, participo do Instituto Lula...
Quando o senhor desistiu da candidatura a
governador em 2010, a pedido do Lula, ele lhe garantiu a eleição agora?
Ele não garantiu, mas isso é implícito. A começar pelo presidente nacional do
PT, o Rui Falcão... todo mundo da direção nacional... Aqui no Rio de Janeiro,
nós temos 95% do partido. A (deputada federal) Benedita da Silva (PT-RJ), que
antigamente disputou contra mim, está apoiando a minha candidatura. Agora, o
(deputado federal) Luiz Sérgio (PT-RJ) também está apoiando a minha
candidatura. Eu, sinceramente, acho que isso acaba sendo uma demonstração de
fraqueza do PMDB, de ficar dizendo o tempo inteiro: “Ah, Lindbergh... Vou pedir
para o Lula para o Lindbergh não ser candidato”. Isso não é demonstração de
força, é demonstração de fraqueza. Pelo que eu escuto, isso é história do PMDB:
“Ah, não, nós vamos conversar com o presidente Lula para o Lindbergh não ser
candidato.” O Lula, amigo, já me disse: “Toca o teu barco.” Ele fala direto
para mim: “Toca o teu barco.”
Como será sua estratégia de campanha?
Quando acabarem as eleições, nós vamos rodar o estado. Nós vamos montar aqui no
Rio o que o Lula fez nacionalmente. O Lula fez uma coisa que foi muito
importante para o governo dele — não foi só para ganhar voto — que foi montar
aquelas Caravanas da Cidadania. Ele me disse em várias oportunidades que não
teria sido um bom presidente se não tivesse feito as Caravanas da Cidadania.
Nós vamos fazer isso depois da eleição. Eu quero andar em cada bairro de cada município
do estado. Eu quero andar por todos os bairros de Seropédica, ver todos os
problemas. Estou convencido de que tem uma parte do Rio que está muito
esquecida, na Baixada, São Gonçalo, uma parte da cidade do Rio de Janeiro. Esse
é um estado muito dividido. A sensação que tenho é que a desigualdade sempre
cresce, ao contrário do Brasil.
Por quê?
Aqui há um ‘Robin Hood’ às avessas. Sinceramente, tem gente que acha que Rio de
Janeiro é Zona Sul e Barra da Tijuca. Eu acho muito bacana as UPPs na Zona Sul,
mas tem que ir para a Baixada Fluminense, tem que ir para São Gonçalo. Água: a
água que abastece o Rio de Janeiro sai da Baixada, mas falta água em 40% da
Baixada. Não é exagero, vai para Caxias: uma cidade que tem dinheiro, tem
arrecadação, falta água em tudo que é lugar. Falta fazer no Rio o que o Lula
fez no Brasil. Acho que o governo Cabral teve muitos avanços, mas acho que
temos que dar um passo além. Segurança, por exemplo, eu sou a favor da tese da
UPP, parabenizo o secretário José Mariano Beltrame, um cara honesto, correto.
Ele deu um outro caminho. Não é essa questão de ser oposição, mas acho que
falta isso para o Rio seguir avançando. Qual foi o segredo do Lula para o
Brasil hoje ser a sexta economia do mundo? Foi construir um grande mercado de consumo
de massa; ele olhou para as pessoas que mais precisavam e melhorou o Brasil
todo. Acho que falta isso no Rio: quando melhorar a vida do povo do subúrbio,
na Baixada, em São Gonçalo, em Itaboraí, vai melhorar para todo mundo. Quando
tiver mais emprego.
O medo de o projeto das UPPs, de o projeto de
segurança do Cabral, muito personalizado pelo Beltrame, ir por água abaixo deve
ser um dos maiores obstáculos da sua candidatura contra o Pezão. Como evitar
este medo?
Não, de jeito nenhum. Sou um defensor de primeira hora das UPPs. Só que eu acho
que devemos procurar o caminho da universalização das UPPs. Hoje, do jeito que
está, está mal entendida pelo povo. Porque, de fato, há regiões em que os
números pioraram, isso é um fato. Mas sou um defensor maior ainda do Beltrame.
O senhor chamaria o secretário Beltrame para
continuar à frente da segurança?
Claro, seria o meu sonho.
Não satisfeito em combater o Cabral, o senhor
quer roubar o secretário dele?
Não, não estou combatendo o Cabral, não. O Beltrame, pelo trabalho que está
fazendo, eu dou nota 10. Tenho grande admiração pelo Beltrame e volto a dizer:
UPP é o caminho.
O que falta é UPP ou mais policiais nas ruas?
Acho, sinceramente, que a questão da segurança pública no Rio nós temos que
jogar uma conta no governo federal. O Rio de Janeiro não é um estado qualquer,
é um estado muito importante para o Brasil, e é o único estado que ainda tem
lugares dominados por grupos armados de traficantes. E isso não é para ser
permitido pelo Brasil. Hoje há uma concentração muito grande de arrecadação nas
mãos da União. A minha discussão é a seguinte: quanto custa para nós
universalizarmos as UPPs? Eu, como governador, tentaria convencer o governo
federal de que essa conta tem que ser repartida.
Que movimentações o senhor já está fazendo de
olho em 2014?
O PSB é um grande aliado meu aqui no Estado do Rio. Não só ele. Eu estou
construindo o meu campo aqui. Estou montando um campozinho. Tenho conversado
com o (senador Marcelo) Crivella (PRB-RJ). Tenho conversado com o PDT, com o
PCdoB, com o PSC, que aqui no Rio tem força entre evangélicos e católicos.
Estamos procurando olhar mais à frente.
E teria lógica o PMDB estadual apoiar a sua
candidatura?
Eu acho que tem. (risos) Perguntou? Eu respondi. (risos)
Então, tem que avisar ao Cabral...
Eu tenho uma ótima relação com o Cabral. Uma relação...
... institucional?
Eu tenho uma ótima relação pessoal também, com muito respeito. Eu acho o
seguinte. No final de 2013, as pesquisas vão aparecer. Cabral vai olhar as
pesquisas e vai olhar o melhor caminho. Cabral entende muito de eleição no Rio
de Janeiro. No cenário que tem a candidatura do deputado federal Anthony
Garotinho (PR), tem a minha e tem a do Pezão, ele pode achar que é melhor se
unir à minha para enfrentar o Garotinho, que virou um desafeto, briga grande.
Então, passadas as eleições, o senhor vai
passar a ser oposição a Cabral?
Não. Volto a dizer: eu tenho uma ótima relação com o Cabral. Acho que o Cabral
vai entrar para a História como um importantíssimo governador desse estado. A
gente vai poder olhar o antes e o depois do Cabral, construir uma marca. Eu
proponho ser um candidato também apoiado por ele. Se não for, também não vou
fazer isso, não vou fazer uma luta. As pessoas não querem saber disso. Para ser
candidato, tem que destruir? Não. Eu vou continuar elogiando os pontos que eu
acho que tenho que elogiar. Vou dizer o que tem que mexer. Não vou fazer
oposição a Cabral. Nem para 2013 e, espero, nem na eleição
.