segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Gabeira e os desafios do Rio para sediar os Jogos de 2016

A imagem de um pais onde há olimpíadas é sempre um tema delicado. Se crescem os problemas de segurança, as pessoas começam a perguntar se isto não vai ter repercussões negativa.
Se o trânsito se torna muito complicado, as pessoas então passam a questionar a mobilidade urbana, prevendo que os jogos serão caóticos.
O que aconteceu com os funcionários brasileiros do COI em Londres não é nada desse tipo. Eles furtaram documentos das Olimpíadas inglesas aos quais tiveram acesso, sob promessa de apenas consultá-los.
Os ingleses protestaram e os dez funcionários brasileiros que viajaram para acompanhar os jogos de Londres 2012 foram demitidos. As cópias dos documentos foram devolvidas e destruídas.
O caso não teve grande repercussão fora do esporte. Nada parecido com os assaltos que vitimaram atletas na África do Sul, um pouco antes da Copa do Mundo.
Mas para quem segue o esporte internacional, o que aconteceu pode fortalecer a ideia de que os brasileiros, assim como os latino-americanos, não respeitam as regras e estão sempre dando um jeito para contorná-las.
Para entender um pouco como se comportam algumas culturas, basta citar o episódio do craque alemão Klose. Ele fez um gol de mão e disse isso ao próprio árbitro, que anulou a jogada.
O comportamento de Klose é o oposto de Maradona que fez um gol de mão e o comemora até hoje.
A fama de não respeitar as regras e querer se dar sempre bem acaba dificultando não só a performance mas o próprio relacionamento internacional de nossos atletas.
O episodio de Londres merecia um tratamento mais transparente. Por que foram copiados os documentos? O furto destinava-se a fortalecer a organização brasileira? Ou era uma tentativa de ganhar dinheiro extra, vendendo consultorias?
É compreensível que o COI queira encerrar o caso o mais rápido possível, anunciando apenas a demissão dos funcionários envolvidos. Mas era um grupo grande. Revela, caso tenham agido por conta própria, uma certa fragilidade no próprio recrutamento.
Teoricamente foram para Londres os mais capazes e confiáveis pois sua missão era aprender para adaptar ao Brasil as técnicas inglesas de organização do evento.
Quando acontecem essas coisas, de um modo geral a tendência é apurar e resolver o caso em tempo recorde: encerrá-lo celeremente abafa a repercussão negativa.
A desvantagem dessa tática é a ausência de debate. E não se questiona a cultura que considera o respeito às regras estabelecidas coisa de otário.
Os atletas brasileiros que disputam competições internacionais são os primeiros a perder com a má reputação. Ora são olhados com desconfiança pelos outros atletas, ora ficam sob uma vigilância extrema dos árbitros dos jogos.
Aparentemente o furto dos documentos ingleses é um episódio encerrado. Mas em outras circunstâncias, com mais transparência, poderia ter estimulado um grande debate cultural.
É cultura não tem prazo para mudar, é algo que envolve um trabalho de gerações.
Artigo publicado no jornal Metro – 01/10/2012