"Eu quero terminar, dizendo para vocês, porque queremos fazer coisas, nós estamos aqui porque temos ideais e que em cima de princípios éticos e valores morais duradouros. Nós podemos fazer alianças pontuais. Porque não somos obrigados a pensar da mesma forma, do mesmo jeito. Nós não somos sacos de estopa. Nós somos pessoas diferentes, com desejos diferentes. Não é errado ter diferentes interesses. O erro é quando alguém pensa que, de forma ilegítima, vai fazer o seu interesse se sobrepor ao dos demais (palmas).
O interesse da nação brasileira, da preservação do planeta, está acima de nós. E é em nome desse interesse maior que nós estamos unidos. Para isso, cada um vai ter que assumir a sua posição, a sua responsabilidade, e eu sempre digo que para esta mudança precisam três coisas: ter a visão – e que seja uma visão generosa, acolhedora da diferença -, que não pretenda hegemonizar as diferenças, nem diluir os sonhos; e, que seja um processo democrático aberto, transparente, com lideranças multicêntricas, para processos e respostas multicêntricas. Que sejam estruturas flexíveis, capazes de comportar o melhor da academia, dos movimentos sociais, da política, dos governos, do empresariado, da arte e da espiritualidade.
Para isso, cada um, vai ter que ajudar a construir. Isso não vem porque nós, simplesmente, desejamos. É uma construção histórica. E, cada homem, cada mulher deve e pode fazer. Agora, uma coisa importante: essa transformação será fruto da vontade e da determinação de homens e mulheres que se colocam como mantenedores de utopia, mesmo em uma idade já amadurecida.
Mas, para que isso aconteça, é fundamental a força e o envolvimento da juventude. É a juventude que faz mudança. Sem ela, nada muda (palmas). Tudo fica no lugar. No Acre, nós mudamos, porque foi possível, Juca, grupo de jovens sonhadores, ao lado de Chico Mendes, Dom Moacir, Leonardo Boff, Clodovis Boff; eles nos davam suporte para sonharmos. Eu nunca esqueço, no dia em que D. Moacir me mandou, numa canoa, para levar alimentos para alguns trabalhadores, que estavam lá no seringal Catuaba, isolados, com jagunços, e eu e a Celma íamos remando, na canoa. Ela, 17 anos e eu, 19 anos. Um pouco mais magrinha do que hoje, mas dava para ver, para perceber.
E, quando nós passávamos, ninguém dava a mínima para aquelas duas meninas. Levávamos a comida e voltávamos. Um belo dia, já um pouco mais grandinha, numa reunião, deveríamos ter 28, para 30 - da idade da minha filha Shalom, que está aqui (minha filha Moara, minha sogra, meu sogro, meus amigos, minha família – palmas – que estão aqui) eu disse numa reunião, para D. Moacir: “D. Moacir, como é que o senhor teve a coragem de mandar aquelas duas meninas lá, no olho do furacão, do conflito armado?” Obviamente, que o inconsciente faz armadilhas, e eu queria que ele dissesse, Augusto: ”vocês eram muito corajosas, vocês eram muito ousadas, vocês eram meninas muito fortes”. Ele olhou para mim e disse: “Minha filha, quem não tem quem mandar, manda qualquer um”. (risos) (palmas)
Pois não é que essa história de mandar qualquer um dá certo? Então, não espere para se transformar primeiro no Obama, no Pelé, em quem quer que seja. Vai em nome de qualquer um, que é isso que faz a mudança. Se coloque no seu lugar e faça a diferença (palmas). Para concluir, eu vou terminar com uma poesia, que eu faço, que os meus assessores não aguentam mais. O Capobianco não aguenta mais, o Fábio Feldman também não. Mas, aqui no PV, é nova, então eu posso, dizer (risos).
Está um pouco por aí, nos mangues, eu vi. É algo que nos chama a fazer esse revezamento, de que ninguém deve ser líder de tudo e ainda querer ser líder do resto. Isso não dá certo. E no Brasil, isso está destruindo a política, um pouco. Na Amazônia, tem uma árvore chamada “taxí”. Tem umas formigas, e em baixo do taxí, não nasce absolutamente nada. E, eu lá no Acre, eu dizia: não podemos taxí, porque é preciso que possam nascer novas plantas. Os lagos só são ricos na Amazônia, porque de vez enquanto, eles são inundados pelas águas e levam novos nutrientes e novos peixes. Se você derreter tudo, vai acabar virando um mar morto.
Então, cada um se coloque na posição de revezamento. É mais ou menos assim: “Do arco que empurra flecha, quero a força que a dispara, do alvo que é mirado, quero que o faz desejado. Do desejo, que busca o alvo, quero o amor por razão. Só assim, não terei armas. E, assim, não farei guerras e assim fará sentido o meu passar por esta Terra. Sou o arco, sou a flecha. Sou todo em metades. Sou as partes que se mesclam nos propósitos e nas vontades. Sou o arco por primeiro. Sou a flecha por segundo. Sou a flecha por primeiro, sou o arco por segundo. Buscai o melhor de mim, e terás o melhor de mim. Darei o melhor de mim onde precisar o mundo. Que o mundo possa levar o melhor de cada um de nós, nesse ato, nesse gesto, de acolhimento, que é do Brasil, que é do planeta, que é de um mundo melhor”.
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